Análise do Enredo de Eça de Queiros

Análise do Enredo

O Primo Basílio é um romance de Eça de Queirós. Publicado em 1878, constitui uma análise da família burguesa urbana no século XIX.

O autor enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres. A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O Primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances nessa época - deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.

As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.

PERSONAGENS

  • Luísa: Representa a jovem romântica, inconsequente nas suas atitudes, a adúltera e, no final, arrependida.

  • Jorge: Marido dedicado de Luísa, homem prático e simples, que contrasta com a personalidade mundana e sedutora de Basílio.

  • Basílio: Dândi, conquistador e inrresponsável, "bon vivant" pedante e cínico. Como todo dândi, Basílio procurava imitar um estilo de vida aristocrático, decadente.Tinha uma preocupação latente em estar bem vestido e arrumado.

  • Juliana: Personagem mais completa e acabada da obra, tem sido vista como o símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia a tudo e a todos, principalmente seus patrões. Não se detendo diante de qualquer sentimento de fundo moral.

  • Sebastião: Personagem simpático que permanece fiel a Jorge e ao mesmo tempo ajuda Luísa. Sebastião é o único que não apresenta nenhuma crítica à socialidade lisboeta.

  • Julião: Parente distante de Jorge e amigo íntimo da casa, Julião Zuzarte,assim como Juliana, representa o descontentamento e o tédio com a profissão. Estudava desesperadamente medicina, na esperança de conseguir uma clientela rica. Andando sempre sujo e desarrumado, Julião era invejoso e azedo.

  • Visconde Reinaldo: Amigo de Basílio, era, como este, um dândi. Desprezava Portugal. Reinaldo representa o pensamento aristocrático, o desprezo pelos valores burgueses, como a família e a virtude.

  • Dona Felicidade: Amiga de Luísa, cinquentona. Apaixonada perdidamente pelo Conselheiro Acácio. Simbolizava, nas palavras do próprio Eça: "a beatice parva de temperamento excitado".

  • Conselheiro Acácio: Antigo amigo do pai de Jorge, Acácio é o arquétipo do sujeito que só diz obviedades. Pudico, formal em qualquer atitude, rejeita friamente as investidas de Dona Felicidade. Diz a todos que "as neves da fronte acabam por cair no coração". No entanto, vive um romance secreto com sua criada.

  • Senhor Paula: Vizinho de Jorge. Junto com a carvoeira e a estanqueira, passa o dia bisbilhotando quem entra e quem sai da casa do "engenheiro". O surgimento de Basílio acaba virando um espetáculo para eles.

  • Leopoldina: Amiga de Luísa, casada e adúltera. Sempre em busca de novos prazeres e assim amantes, tem uma má reputação, e é uma possível influência para o comportamento de Luísa.

ENREDO

Jorge, bem-sucedido engenheiro e funcionário de um ministério e Luísa, moça romântica e sonhadora, protagonizam o típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Casados e felizes, faltando apenas um filho para completar a alegria do "lar do engenheiro", como era chamada a residência do casal pela vizinhança pobre.

Um grupo de amigos sempre freqüenta aquele lar: D. Felicidade, a beata que sofre de crises gasosas e morre de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho e as empregadas Joana – assanhada e namoradeira – e Juliana – revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.

Ao mesmo tempo que cultiva uma união formal e feliz com Jorge, Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina – chamada a "Pão-e-Queijo" por suas contínuas traições e adultérios. A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge tende a viajar a trabalho para Alentejo.

Após a partida de seu esposo, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido e exatamente nesse meio-tempo, Basílio chega do exterior. Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa (eles haviam namorado antes de Luísa conhecer Jorge),Luísa era uma pessoa com uma forte visão romântica da vida, lia apenas romances, Basilio apresentou-se como a chave para seus sonhos: rico, morando na França, amoroso agora transformado em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique o adultério. Entrementes, Juliana espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa "em flagrante".


Os encontros entre os dois se sucedem ao par da troca de cartas de amor, uma das quais é interceptada por Juliana – graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória –, que começa a chantagear a patroa. Transformada de senhora mimada em escrava, Luísa começa a adoecer. De frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana logo lhe tiram o ânimo, minando-lhe a saúde.


Jorge volta e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião, o qual, armando uma cilada para Juliana, intentando levá-la presa, acaba por provocar-lhe a morte. É um novo tempo para Luísa, cercada do carinho de Jorge, Joana e da nova empregada, porém, já é tarde demais: enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, Luísa é acometida por uma violenta febre. Acamada pelas altas febres, Luísa não nota que Basílio lhe responde a uma carta escrita a meses, e quando o carteiro entrega a carta em sua residência, chama a atenção de Jorge por estar endereçada a Luísa e ser remetida da França, motivo pelo qual ele a abre e descobre o adultério da esposa nas palavras amorosas e cheias de saudade de Basílio.A evidência da traição o faz entrar em desespero mas no entanto, perdoa-lhe a traição pelo forte amor que lhe tem e pelo seu frágil estado de saúde. De nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos, nem o zelo médico - que chegou a raspar-lhe os longos cabelos - de que foi cercada.

Luísa morre e o "lar formalmente feliz" desfaz-se. O romance termina com a volta de Basílio - o qual fugira, deixando-a sem apoio - e seu cinismo, ao saber da morte da amante: comenta com um amigo que "antes tivesse trazido a Alphonsine". Esta parte encerra o livro explicitando o mau caráter de Basílio. Enquanto caminhavam pela rua, seu amigo, o Visconde Reinaldo, censurava Basílio por ter tido um romance com uma "burguesa", sem distinção. Não era, como ele mesmo dizia,uma amante chique, pelo contrário "uma mulher sem relações decentes, casada com um reles funcionário". Achava a relação absurda,no final das contas. E arrisca dizer que Basílio fizera o que fizera,por "higiene". Naquela época,havia a crença de que a ausência de sexo fazia mal à saúde dos homens. O sexo em casa, no entanto, não era suficiente. O homem deveria buscar o sexo fora, só assim conseguindo o efeito desejado. Ao responder "droga, deveria ter trazido a Alphonsine", Basílo confirma a suspeita do amigo. Luísa fora usada, então. Não houve qualquer sentimento. Luísa morrera,portanto, sem nunca ter sido amada por Basílio.