Literatura após 194O

Seria tentador explicar a aparente escassez de grandes escritores no período imediatamente posterior à segunda guerra mundial como resultado inevitável da pressão acumulada pelo impacto dos progressos sociais e tecnológicos que se aceleraram em virtude do conflito. Sob tais circunstâncias instáveis e incertas, não pareceria totalmente estranho que os atos de escrever e ler, tal como são tradicionalmente entendidos, sofressem interrupção.

De fato, em certos países de alto desenvolvimento tecnológico, como os Estados Unidos, a palavra impressa, em si, pareceu a alguns críticos ter perdido sua posição central, deslocada na mente popular para uma cultura eletrônica e visual que não exige a participação intelectual da audiência. Assim, os meios de comunicação criaram uma cultura popular internacional em vários países ocidentais, mas em nada contribuíram para responder às questões sobre a importância contemporânea da literatura.

Dadas as condições extraordinárias em que trabalha o escritor moderno, não é surpreendente que seja difícil julgar a qualidade de sua produção, nem que a experimentação radical tenha seduzido grande número de autores. As formas tradicionais da escrita perdem suas características essenciais e se dissolvem umas nas outras, como os romances cuja linguagem adquire características de poesia, ou os que são transformados numa espécie de reportagem, enquanto a experimentação gráfico-visual deu aos poemas a aparência de pinturas verbais.

A experimentação formal, no entanto, é apenas um aspecto da questão literária contemporânea, e afirmar que a literatura moderna desde a segunda guerra mundial foi essencialmente experimental seria ignorar outras tendências que se manifestaram no início do século e que ainda continuam a ser discutidas. Na opinião da maior parte dos bons críticos, apesar da escassez de grandes nomes e da natureza possivelmente transitória de muito do que se escreve nesta época de temas e estilos tão variados, é muito provável que uma boa literatura esteja sendo produzida.

Literatura - Século XX.

Século XX.

Quando o século XX começou, as condições sociais e culturais que predominavam na Europa e na América não eram muito diferentes daquelas de meados e fim do século XIX. Pouco depois, porém, Joseph Conrad, Henry James e D. H. Lawrence anunciavam em sua obra literária a transição de um mundo relativamente estável para uma época turbulenta, que começou com a primeira guerra mundial, em que se dava o despertar de uma nova consciência moral na literatura e nas artes.

É o que se encontra sobretudo na ficção de A la recherche du temps perdu (Em busca do tempo perdido), de Marcel Proust -- cujo primeiro volume, Du côté de chez Swann (No caminho de Swann), é de 1913; em Les Caves du Vatican (1914; Os subterrâneos do Vaticano), de André Gide; no Ulysses (1922), de James Joyce; em Der Prozess (O processo, publicado postumamente em 1925), de Franz Kafka; e em Der Zauberberg (1924; A montanha mágica), de Thomas Mann.

Várias influências que marcaram grande parte da literatura posterior a 1920 já estavam em evolução na obra desses escritores. Seu trabalho, como o de alguns outros da mesma época, mostrava interesse pelo inconsciente e o irracional. Duas importantes fontes dessa literatura foram Friedrich Nietzsche, filósofo alemão a quem tanto Gide quanto Mann, por exemplo, muito deviam, e Freud, cujos estudos psicanalíticos, por volta da década de 1920, exerceram poderosa influência sobre os intelectuais do Ocidente.

O abandono das tendências e estilos do século XIX não se limitou aos escritores de ficção. O primeiro Manifeste du surréalisme (1924), de André Breton, foi a afirmação inicial de um movimento que pedia espontaneidade e ruptura total com a tradição. No surrealismo, a influência de Freud transparecia pela importância atribuída aos sonhos, na escrita automática e em outros métodos não lógicos e, embora tenha durado pouco como movimento formal, teve efeito duradouro na arte e na poesia do século XX.

As incertezas da nova época e a diversidade de tentativas de lidar com ela ou lhe conferir coerência artística também pode ser observada em Duineser Elegien (1922; Elegias de Duíno) e Sonette an Orpheus (1923; Sonetos a Orfeu), de Rainer Maria Rilke; em Waste Land (1922; A terra inútil) de T. S. Eliot; e na obra de Fernando Pessoa.

O período internacionalista e experimental da literatura do Ocidente nas décadas de 1910 e 1920 foi importante não apenas pelas grandes obras então produzidas, mas também porque estabeleceu um padrão para o futuro. Nas maiores obras da fase, revelou-se bem o senso progressivo de crise e de urgência, além das dúvidas com relação à estabilidade psicológica da personalidade individual e do questionamento profundo de todas as soluções filosóficas e religiosas para os problemas humanos.

Na década de 1930, essas características do pensamento próprias do século XX persistiram e se expandiram para o domínio da política, na medida que os escritores se dividiam entre os que apoiavam o engajamento político em seus textos e aqueles que reagiam conservadoramente contra a dominação da arte pela política. Nem a segunda guerra mundial solucionou esse impasse. Questões semelhantes a essa ainda permaneciam em discussão no final do século.

Romantismo - Pós-romantismo - Realismo e Nacionalismo


Romantismo.

O movimento literário dominante no início do século XIX foi o romantismo que, na literatura, teve origem na fase do Sturm und Drang na Alemanha. Essa afirmativa é uma importante correção da noção habitual que se tem da literatura romântica como se tivesse começado com a poesia inglesa de Wordsworth e Coleridge, e a publicação, em 1798, das Lyrical Ballads de ambos. Além disso, embora seja verdade que a revolução francesa e a revolução industrial foram dois dos principais fatores políticos e sociais a influenciar os poetas românticos da Inglaterra do início do século XIX, muitos traços do romantismo na literatura surgiram a partir de fontes literárias e filosóficas.

Os antecedentes filosóficos foram fornecidos no século XVIII principalmente por Jean-Jacques Rousseau, cuja ênfase no indivíduo e no poder da inspiração influenciou Wordsworth e também escritores românticos da primeira fase: Hölderlin e Ludwig Tieck, na Alemanha; e o francês Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre, cujo Paul et Virginie (1787) antecipou alguns dos excessos sentimentais do romantismo do século XIX. Os românticos acreditavam que a verdade das coisas poderia ser explicada somente por meio do exame de suas próprias emoções no contexto da natureza e das condições primitivas. Por causa da ênfase na inspiração, o poeta assumiu o papel central -- como profeta e visionário. Ao mesmo tempo, rejeitava-se a imitação dos clássicos. Duas posições típicas do poeta romântico eram a mística visionária de Keats e o super-homem de Lord Byron.

A corrente romântica atravessou toda a Europa e chegou à Rússia. Em poesia, o estilo se manifesta em Musset, Lamartine e Victor Hugo, na França; José de Espronceda y Delgado, na Espanha; Niccoló Ugo Foscolo e Giacomo Leopardi, na Itália, onde se identificou com os sentimentos nacionalistas; Aleksandr Puchkin, na Rússia; e Adam Mickiewicz, na Polônia. O sentimento nacionalista também se acha na obra do português Almeida Garrett e, nos Estados Unidos, nas histórias de James Fenimore Cooper, na poesia de Walt Whitman e na obra de Henry Wadsworth Longfellow.

O ímpeto da poesia romântica começou a esgotar-se aproximadamente após 1830 e abriu caminho para estilos mais objetivos, porém muitos de seus temas e artifícios, tais como o do artista incompreendido ou do amante infeliz, continuaram a ser empregados.

Pós-romantismo.

O primeiro poeta pós-romântico foi possivelmente um alemão, Heinrich Heine, mas a poesia alemã de meados do século XIX em sua maior parte seguiu Wordsworth, embora novas tendências fossem encontradas em Karl August von Platen-Hallermünde e no austríaco Nikolaus Lenau. A principal corrente pós-romântica apareceria na França, onde ganhou força um movimento conhecido como parnasianismo.

Originado com Théophile Gautier, o parnasianismo, mais que uma reação ao romantismo, foi de certa maneira um seu desdobramento. Ao concentrar-se nos elementos puramente formais da poesia, na estética e na "arte pela arte", mudou a direção da poesia francesa e teve muita influência em outros países. Um de seus mais ilustres representantes, Charles Baudelaire, capaz de acreditar que "tudo que não fosse arte era feio e inútil", processou ao mesmo tempo uma ruptura profunda com o movimento e anunciou os caminhos da poesia moderna.

Outro precursor dos modernos foi o americano Edgar Allan Poe, traduzido para o francês pelo próprio Baudelaire. Difundiram-se, pouco depois, os movimentos impressionista e simbolista, tomados de empréstimo à pintura, à escultura e à música. Paul Verlaine, o primeiro dos impressionistas, usava a sugestão e ritmos fugazes para conseguir seus efeitos. O simbolismo -- uso seletivo das palavras e imagens para evocar atmosferas e significados sutis -- aparece ainda nas obras de Mallarmé e Rimbaud.

A democratização da educação aumentou a procura do romance. No começo do século XIX, Jane Austen já satirizara os excessos do romance gótico, precursor do romantismo medievalizante do fim do século XVIII. Na França, o conflito entre inteligência e emoção apareceu nas obras de Benjamin Constant (Adolphe, 1816), mais notavelmente em Le Rouge et le noir (1830; O vermelho e o negro) de Stendhal e, posteriormente, em Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. O realismo da obra de Flaubert e de Honoré de Balzac foi levado adiante por Guy de Maupassant na França, Giovanni Verga na Itália e Eça de Queirós em Portugal. Culminou no naturalismo de Émile Zola, que classificou sua prosa, em romances como Thérèse Raquin (1867), de "autópsia literária".

Realismo e Nacionalismo, contudo, parecem menos relevantes na visão de outros grandes escritores que se seguiram, como George Eliot, Charles Dickens e Thomas Hardy na Inglaterra e especialmente os russos Nikolai Gogol, Lev Tolstoi, Anton Tchekhov e Fiodor Dostoievski. Em tais escritores, observa-se uma aguda opção pela literatura de inquirição psicológica e social, estimulada pelas forças do liberalismo, do humanismo e do socialismo de muitos países ocidentais.


Renascimento.

O despertar de um novo espírito de curiosidade intelectual e artística foi a característica dominante do Renascimento. Esse fenômeno político, religioso e filosófico postulou o ressurgimento do espírito da Grécia antiga e de Roma. Na literatura, isso significou um interesse renovado e a releitura dos grandes escritores clássicos. Acadêmicos buscaram e traduziram textos antigos "perdidos", cuja disseminação foi possível graças aos progressos da imprensa na Europa, a partir de 1450.

A arte e a literatura atingiram no Renascimento uma estatura nunca vista em períodos anteriores. A época foi marcada por três situações históricas principais: primeiramente, o novo interesse pelo saber, representado pelos acadêmicos clássicos conhecidos como humanistas, que forneceram modelos clássicos de grande interesse para os novos escritores; segundo, a nova forma do cristianismo, iniciada pela Reforma protestante liderada por Lutero, que chamou a atenção dos homens para o indivíduo e sua vida interior, a ponto de gerar nos países católicos a réplica da Contra-Reforma; em terceiro lugar, as grandes navegações, que culminaram com a descoberta da América em 1492 por Colombo, com repercussão nos países que fundaram impérios ultramarinos, assim como na imaginação e consciência da maior parte dos escritores da época.

A esses devem adicionar-se muitos outros fatores, como o progresso da ciência e da astronomia, e a situação política da Itália no fim do século XV. A nova liberdade e o espírito inquiridor nas cidades-estados italianas favoreceram o aparecimento dos grandes precursores do Renascimento: Dante, Petrarca e Boccaccio. Na França, o Renascimento manifestou-se na poesia dos componentes do grupo conhecido como Pléiade e nos ensaios de Michel de Montaigne, enquanto em Portugal o grande poeta épico Camões marcava a fundo o século XVI e, na Espanha de meio século depois, revelava-se Cervantes.

No século XVI, o acadêmico holandês Erasmo sintetizou a evolução do humanismo, que incorporava o espírito da curiosidade crítica, o interesse pelo saber clássico, a intolerância para com a superstição e um profundo respeito pelo homem como a mais complexa das criações de Deus. Um aspecto da influência da Reforma protestante na literatura foi a grande quantidade, nesse período, de traduções da Bíblia em línguas vernáculas, o que estabeleceu novos modelos para a prosa. O ímpeto renascentista manteve-se vigoroso até o século XVII, quando John Milton sintetizou o espírito do humanismo cristão.

Século XVII. Na política e na sociedade, tanto quanto na literatura, o século XVII foi um período de grandes turbulências. O Renascimento preparara o ambiente receptivo essencial para a disseminação das idéias da nova ciência e da filosofia. Uma retrospectiva autêntica dessa fase também precisa levar em conta o efeito das convulsões sociais e políticas ocorridas do início aos meados do século. Na Inglaterra, houve a guerra civil (1642-1651) e a restauração da monarquia (1660); na França, as insurreições da Fronde (1648-1653), nas quais estava envolvido La Fontaine; na Alemanha, os conflitos religiosos e políticos da guerra dos trinta anos (1618-1648); e, nos Países Baixos, a luta pela independência da Espanha (1568-1648).

As lutas civis, políticas e religiosas que dominaram a primeira metade do século eram também uma resposta à Contra-Reforma. Referências ao conflito religioso se infiltraram nas formas e temas da literatura. Uma reação a isso -- particularmente na Itália, na Alemanha e na Espanha, mas também na França e na Inglaterra -- foi o desenvolvimento de um estilo em arte e literatura conhecido como barroco, mais peculiar à obra de Giambattista Marino, na Itália, Luis de Góngora na Espanha e Martin Opitz von Bobenfeld na Alemanha. Na Inglaterra, a poesia metafísica era a principal tendência do verso inglês da primeira metade do século. Essa denominação, primeiramente aplicada por Dryden à obra de John Donne, é hoje utilizada para designar um grupo de poetas diferençados por seus estilos individuais, altamente intelectualizados, que tinham afinidades com a literatura barroca, especialmente no caso de Richard Crashaw.

Possivelmente, o traço mais vivo do século XVII tenha sido o conflito entre a tendência a continuar imitando os clássicos do Renascimento e a aspiração à novidade trazida pelos cientistas e pensadores, bem como pelas novas experiências com novas formas literárias. Em todos os países, delineou-se o conflito entre antigos e modernos, estes a exigir um estilo de prosa mais adequado aos novos tempos de ciência e exploração. Os modernos, na França, eram seguidores de Descartes. Na Inglaterra, encontrava-se uma tendência similar no trabalho da Royal Society, que incentivava o uso de uma linguagem mais simples, uma maneira de falar mais transparente e natural, adequada ao discurso racional, comparável às grandes realizações da prosa de Milton e Dryden.

Século XVIII. Sobre o século XVIII pesaram, quase nas mesmas proporções, dois impulsos básicos: razão e paixão. O respeito à razão se revelava na busca da ordem, da simetria, do decoro e do conhecimento científico; o cultivo dos sentimentos estimulou a filantropia, a exaltação das relações pessoais, o fervor religioso e o culto da sensibilidade. Na literatura, o impulso racional favoreceu a sátira, o debate, a inteligência e a prosa simples; a paixão inspirou o romance psicológico e a poesia do sublime.

O culto da inteligência, da sátira e do debate fez-se evidente, na Inglaterra, nas obras de Alexander Pope, Jonathan Swift e Samuel Johnson, em conformidade com a tradição de Dryden, do século XVII. O romance tornou-se uma forma de arte maior na literatura inglesa, em parte pelo realismo racionalista das obras de Henry Fielding, Daniel Defoe e Tobias Smollett e, em parte, pela perquirição psicológica dos romances de Samuel Richardson e do Tristram Shandy, de Laurence Sterne. Na França, as obras mais representativas do período são os textos filosóficos e políticos do Iluminismo, sobretudo os de Voltaire e de Rousseau, de profunda influência em toda a Europa e prenúncios teóricos da revolução que se avizinhava.

Na Alemanha, que por algum tempo seguiu os modelos francês e inglês, a grande época da literatura veio no fim do século, quando o cultivo dos sentimentos e da grandeza emocional encontrou sua mais poderosa expressão no movimento conhecido como Sturm und Drang (Tempestade e Tensão). Dois grandes nomes da literatura alemã e universal, Goethe e Schiller, autores de teatro e poesia, avançaram muito além da turbulência do Sturm und Drang.

Século XIX. Um dos períodos mais interessantes e vitais de toda a história das literaturas foi o século XIX, de especial interesse por ser a época de formação de muitas tendências literárias modernas. Nesse período, nasceram ou começaram a se formar o romantismo, o simbolismo e o realismo, assim como algumas das vertentes do modernismo do século XX.

Literatura medieval.

O surgimento do cristianismo nos territórios que haviam formado o Império Romano incutiu na Europa a atitude geral para com a vida, a literatura e a religião dos primeiros doutores da igreja. No Ocidente, a fusão das filosofias cristã e clássica formou a base do hábito medieval de interpretar simbolicamente a vida. Por intermédio de santo Agostinho, os pensamentos platônico e cristão reconciliaram-se. A organização permanente e uniforme do universo grego recebeu forma cristã e a natureza tornou-se um sacramento, revelação simbólica da verdade espiritual.

A igreja não apenas estabeleceu o objetivo da literatura, como cuidou de preservá-la. Ao longo dos tempos, os mosteiros criados nos séculos VI e VII conseguiram preservar a literatura clássica do Ocidente, enquanto a Europa era varrida por godos, vândalos, francos e, mais tarde, escandinavos. Os autores clássicos romanos assim preservados e as obras que continuavam a ser escritas em latim predominaram sobre as obras vernáculas durante quase toda a Idade Média. A Cidade de Deus, de santo Agostinho; a História eclesiástica, do venerável Beda; e a crônica dinamarquesa de Saxo Grammaticus, por exemplo, foram todas escritas em latim, como a maioria das principais obras sobre filosofia, teologia, história e ciência.

A literatura européia pré-cristã tinha uma tradição oral que foi resgatada na Edda poética e nas sagas, ou épicos heróicos, da Islândia, no Beowulf anglo-saxônico e na Hildebrandslied (Canção de Hildebrando) alemã. Todas essas obras pertenciam a uma tradição comum alemã, mas foram registradas por escribas cristãos muito depois do evento histórico que relatam. Seus elementos pagãos se fundiram com o pensamento e sentimento cristãos. Numerosas baladas, em países diversos, também revelam uma antiga tradição nativa de declamação oral.

Entre os mais conhecidos dos muitos gêneros que surgiram nas literaturas vernáculas medievais estão o romance e a lírica amorosa, que combinavam elementos das tradições orais populares com as da literatura refinada. O romance usou fontes clássicas e arturianas numa narrativa poética que substituiu os épicos heróicos da sociedade feudal, como a Canção de Rolando, lenda sobre o heroísmo dos cavaleiros. No romance, temas complexos como amor, lealdade e integridade pessoal se juntaram na busca da verdade espiritual, amálgama encontrado em todas as literaturas ocidentais européias da época.

A lírica amorosa teve antecedentes heterogêneos. As origens do amor cortês são discutíveis, como o é a influência de uma tradição de poesia popular amorosa. Fica claro, porém, que os poetas do sul e norte da França, que cantavam a mulher idealizada, foram imitados ou reinterpretados em toda a Europa: na escola siciliana da Itália, nos Minnesingers (trovadores) da Alemanha, nos versos latinos da Carmina Burana e nos cancioneiros portugueses, espanhóis e galegos do século XIII ao XVI.

Grande parte da literatura medieval, no entanto, é anônima e dificilmente datável. Autores como Dante, Chaucer, Petrarca e Boccaccio, que surgiram no fim do período, foram os mais abalizados comentaristas da cena medieval, ao mesmo tempo que anunciavam os grandes temas e formas da literatura renascentista.

Análise do Enredo de Machado de Assis - Dom Casmurro


Análise do Enredo

Bentinho foi destinado à vida eclesiástica , nasceu sob a estigma da ansiedade agravada pela insegurança da mãe e dos que faziam parte de seu meio.
A importância da imaginação na sua personalidade influenciou-o por toda vida. Na puberdade chega quase na obsessão sexual. Quando o ciúme começa a abrir em sua alma as primeiras feridas , sua reação é quase histérica.
O Bentinho evocado por Dom Casmurro tem dois sinais: sexualidade tardia e predomínio da fantasia sobre a realidade. A presença dessa neurose foi o terreno onde medraram as flores doentias do ciúme.

O Ciúme

Bentinho , fisgado de “puro ciúme” sequer procurava esclarecer as dúvidas quanto as atitudes de Capitu. A imaginação continuava a correr e com ela corre o ciumento.
No capítulo LXXII , retoma-se a tragédia de Shakespeare , Otelo , para a preposição de uma reforma dramática , entretanto , na reconstrução do seu drama memorialista preferia o caminho tradicional.
Dom Casmurro não ousa deixar as coisas “em pratos limpos” , quase a ansiedade chega por vezes ao 1paroxismo de uma crise de nervos, com impulsos agressivos contra Capitu.
No capítulo CXIII , o narrador começa a direcionar suas suspeitas à Capitu , que não quis acompanhar o marido ao teatro em razão de uma indisposição. Bentinho vai só , mas volta para casa no final do primeiro ato e encontra Escobar no corredor de sua casa. O episódio e tratado com fria ironia , levando o leitor as mais variadas interpretações sugeridas pela coincidência entre o mal-estar de Capitu e a visita não anunciada do amigo.
“Dúvida sobre dúvida” (cap. CXV) é o saldo da visita de Escobar . Na conversa que se segue o assunto são as dúvidas e recomenda D. Casmurro que era ele um poço delas , coaxavam dentro dele como verdadeiras rãs.
A necessidade do delírio , associada a perturbação do sono , configura a fase que os psiquiatras chamam de epofenia.
José Dias chama Ezequiel de “filho do homem” e isso irrita Capitu. Essa tenta corrigir o modo de andar do filho que imita José Dias e o modo de olhar que imita Escobar. Bentinho acredita que as imitações de Ezequiel é uma prova de paternidade e não decorrente da convivência.
Os dois casais , Bentinho e Capitu , Escobar e Sancha , planejam uma viagem para Europa, porém tal viagem não ocorre pois Escobar morre tragicamente.
Nesse momento da obra , o ciúme se instaura para sempre no coração de Bentinho. O fato determinante surgiu nos momentos que procederam o enterro, quando a viúva é amparada por Capitu , que parecia vencer a si mesma.
O olhar fixo de Capitu para o defunto , leva Bentinho a uma interpretação exorbitante. Suas dúvidas tornam-se agora firmes e certas , já alimentando a sede de vingança.
A partir da morte de Escobar , Bentinho anda aborrecido , mergulha de vez na melancolia. E começa a fazer projetos de suicídio. A paranóia do ciúme se incorpora de tal forma que ele passa a tratar sua mulher com aspereza e toma o filho para transforma-lo em documento de traição.
Ezequiel é afastado para um colégio da Lapa , no entanto , esse afastamento não diminui , de Bentinho a idéia do suicídio. Certo dia , quando esperava o café D. Casmurro pensou em matar-se ; chega a derramar o veneno na xícara , tremendo , com “os olhos vagos à memória em 2Desdêmona inocente”. A presença de Ezequiel corta-lhe o impulso suicida e surge com violência o desejo de liquidar o filho. Dom Casmurro , por um momento acreditou-se vítima de uma grande ilusão , a volta de Ezequiel lança-o novamente ao mundo de seus fantasmas.
Santiago isola Capitu e o filho na Suíça. Capitu morre. O primeiro e único amor estava morto e enterrado , mas o ciúme não: ressurgia na figura do filho que de volta de uma das viagens o visitara inesperadamente.

Análise do Enredo de Eça de Queiros

Análise do Enredo

O Primo Basílio é um romance de Eça de Queirós. Publicado em 1878, constitui uma análise da família burguesa urbana no século XIX.

O autor enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres. A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O Primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances nessa época - deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.

As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.

PERSONAGENS

  • Luísa: Representa a jovem romântica, inconsequente nas suas atitudes, a adúltera e, no final, arrependida.

  • Jorge: Marido dedicado de Luísa, homem prático e simples, que contrasta com a personalidade mundana e sedutora de Basílio.

  • Basílio: Dândi, conquistador e inrresponsável, "bon vivant" pedante e cínico. Como todo dândi, Basílio procurava imitar um estilo de vida aristocrático, decadente.Tinha uma preocupação latente em estar bem vestido e arrumado.

  • Juliana: Personagem mais completa e acabada da obra, tem sido vista como o símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia a tudo e a todos, principalmente seus patrões. Não se detendo diante de qualquer sentimento de fundo moral.

  • Sebastião: Personagem simpático que permanece fiel a Jorge e ao mesmo tempo ajuda Luísa. Sebastião é o único que não apresenta nenhuma crítica à socialidade lisboeta.

  • Julião: Parente distante de Jorge e amigo íntimo da casa, Julião Zuzarte,assim como Juliana, representa o descontentamento e o tédio com a profissão. Estudava desesperadamente medicina, na esperança de conseguir uma clientela rica. Andando sempre sujo e desarrumado, Julião era invejoso e azedo.

  • Visconde Reinaldo: Amigo de Basílio, era, como este, um dândi. Desprezava Portugal. Reinaldo representa o pensamento aristocrático, o desprezo pelos valores burgueses, como a família e a virtude.

  • Dona Felicidade: Amiga de Luísa, cinquentona. Apaixonada perdidamente pelo Conselheiro Acácio. Simbolizava, nas palavras do próprio Eça: "a beatice parva de temperamento excitado".

  • Conselheiro Acácio: Antigo amigo do pai de Jorge, Acácio é o arquétipo do sujeito que só diz obviedades. Pudico, formal em qualquer atitude, rejeita friamente as investidas de Dona Felicidade. Diz a todos que "as neves da fronte acabam por cair no coração". No entanto, vive um romance secreto com sua criada.

  • Senhor Paula: Vizinho de Jorge. Junto com a carvoeira e a estanqueira, passa o dia bisbilhotando quem entra e quem sai da casa do "engenheiro". O surgimento de Basílio acaba virando um espetáculo para eles.

  • Leopoldina: Amiga de Luísa, casada e adúltera. Sempre em busca de novos prazeres e assim amantes, tem uma má reputação, e é uma possível influência para o comportamento de Luísa.

ENREDO

Jorge, bem-sucedido engenheiro e funcionário de um ministério e Luísa, moça romântica e sonhadora, protagonizam o típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Casados e felizes, faltando apenas um filho para completar a alegria do "lar do engenheiro", como era chamada a residência do casal pela vizinhança pobre.

Um grupo de amigos sempre freqüenta aquele lar: D. Felicidade, a beata que sofre de crises gasosas e morre de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho e as empregadas Joana – assanhada e namoradeira – e Juliana – revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.

Ao mesmo tempo que cultiva uma união formal e feliz com Jorge, Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina – chamada a "Pão-e-Queijo" por suas contínuas traições e adultérios. A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge tende a viajar a trabalho para Alentejo.

Após a partida de seu esposo, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido e exatamente nesse meio-tempo, Basílio chega do exterior. Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa (eles haviam namorado antes de Luísa conhecer Jorge),Luísa era uma pessoa com uma forte visão romântica da vida, lia apenas romances, Basilio apresentou-se como a chave para seus sonhos: rico, morando na França, amoroso agora transformado em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique o adultério. Entrementes, Juliana espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa "em flagrante".


Os encontros entre os dois se sucedem ao par da troca de cartas de amor, uma das quais é interceptada por Juliana – graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória –, que começa a chantagear a patroa. Transformada de senhora mimada em escrava, Luísa começa a adoecer. De frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana logo lhe tiram o ânimo, minando-lhe a saúde.


Jorge volta e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião, o qual, armando uma cilada para Juliana, intentando levá-la presa, acaba por provocar-lhe a morte. É um novo tempo para Luísa, cercada do carinho de Jorge, Joana e da nova empregada, porém, já é tarde demais: enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, Luísa é acometida por uma violenta febre. Acamada pelas altas febres, Luísa não nota que Basílio lhe responde a uma carta escrita a meses, e quando o carteiro entrega a carta em sua residência, chama a atenção de Jorge por estar endereçada a Luísa e ser remetida da França, motivo pelo qual ele a abre e descobre o adultério da esposa nas palavras amorosas e cheias de saudade de Basílio.A evidência da traição o faz entrar em desespero mas no entanto, perdoa-lhe a traição pelo forte amor que lhe tem e pelo seu frágil estado de saúde. De nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos, nem o zelo médico - que chegou a raspar-lhe os longos cabelos - de que foi cercada.

Luísa morre e o "lar formalmente feliz" desfaz-se. O romance termina com a volta de Basílio - o qual fugira, deixando-a sem apoio - e seu cinismo, ao saber da morte da amante: comenta com um amigo que "antes tivesse trazido a Alphonsine". Esta parte encerra o livro explicitando o mau caráter de Basílio. Enquanto caminhavam pela rua, seu amigo, o Visconde Reinaldo, censurava Basílio por ter tido um romance com uma "burguesa", sem distinção. Não era, como ele mesmo dizia,uma amante chique, pelo contrário "uma mulher sem relações decentes, casada com um reles funcionário". Achava a relação absurda,no final das contas. E arrisca dizer que Basílio fizera o que fizera,por "higiene". Naquela época,havia a crença de que a ausência de sexo fazia mal à saúde dos homens. O sexo em casa, no entanto, não era suficiente. O homem deveria buscar o sexo fora, só assim conseguindo o efeito desejado. Ao responder "droga, deveria ter trazido a Alphonsine", Basílo confirma a suspeita do amigo. Luísa fora usada, então. Não houve qualquer sentimento. Luísa morrera,portanto, sem nunca ter sido amada por Basílio.